quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

EU VI UM SHOW DE ROBERTO VÁSQUEZ


Isso ocorreu em 1997. Lendo o jornal "Correio do Povo" de Porto Alegre, percebi uma pequena foto de Quico acompanhando uma quase minúscula nota informando que ele estaria na capital gaúcha para fazer um show. Ao mesmo tempo em que fiquei radiante, estranhei muito o nome do ator escrito no jornal: Roberto Vásquez. Puxei pela memória o acontecido dois anos antes, quando o Circo do Quico esteve em Porto Alegre. O nome do intérprete do filho de Dona Florinda não era Carlos Villagrán? Naquela época, não manjava quase nada da turma do Chaves. Era curioso como todos os chavesmaníacos e sonhava descobrir as respostas das dezenas de mistérios (isso quando a internet ainda era raridade nos lares brasileiros, pois os sites CH trariam todas essas respostas). Por isso tive em mente (ainda que com desconfiança) de que aquele era o Quico verdadeiro.

Fui ao show com minha prima Karina. Ele ocorreria num teatrinho mixuruca no bairro Cidade Baixa, na rua Ramiro Barcelos. Santa ingenuidade a minha. Como é que o grande e colossal Quico faria um show no Brasil numa espelunca? Para a grandeza do personagem, seriam necessários dois Canecões, dois Teatros São Pedro ou até quem sabe dois Maracanãs.Minha prima logo ficou desconfiada quando soube que o nome do Quico do show era Roberto Vásquez. Ela já tinha a certeza de que aquele não era o bochechudo verdadeiro. Ela me contou: "Tem alguma coisa errada, Marquinho! Eu me lembro que o nome do ator é Carlos Villagrán!". Fomos falar com duas senhoras do teatro a fim de debater sobre o fato desse tal de Vásquez ser um impostor. Aí está a primeira prova: as duas insistiram que aquele era o Quico da televisão. Elas tentaram nos convencer alegando que os joelhos de Vásquez e Villagrán eram diferentes. O de Villagrán era liso e o de Vásquez possuia dobras e tinha um formato redondo um tanto diferente dos demais. Nos mostraram fotos dos dois atores comparando os joelhos e recomendaram que eu assistisse a Chaves e reparasse nesta curiosidade: que o joelho do Quico da TV tinha esse formato gozado, referente a Vásquez. É claro que não engolimos aquela conversa fiada.

Eu, ingênuo que era na época (tinha apenas 13 anos e nem computador tinha para adquirir as respostas dos mistérios), continuei acreditando que aquele era mesmo o Quico. Tanto que Vásquez apareceu todo sorridente de terno e gravata juntamente com assessores e produtores, e até cumprimentou o meu pai. Era um homem totalmente diferente do da televisão. Minha prima já sabia que aquele cara era falsário. Mas a minha cabecinha de criança de treze anos não admitia isso. Por isso, esqueci as dúvidas e tinha certeza de que aquele era o Quico verdadeiro. O carisma do personagem havia feito minha cabeça.

Uma das espectadoras era uma adolescente com síndrome de down que adorava imitar o choro da Chiquinha. E enquanto esperávamos o começo do show, tocava sem parar a música "Kiko Cola" (aquela do "E Quico é campeão" do disco "Discoteca do Kiko" de 1995), um dance music empolgante e que fez um tremendo sucesso na época da passagem do verdadeiro Quico, Carlos Villagrán, pelo Brasil em 1995. No circo também só tocava essa música. No Programa Livre com Serginho Groisman, para quem Villagrán concedeu entrevista, também não foi diferente.inha prima, já desapontada, e eu sentamos na primeira fila (até porque não tinha tanta gente na platéia). O apresentador (um rapazinho que devia trabalhar no teatrinho) sequer sabia o país de origem do Quico. Eu disse para ele da platéia: MÉXICO! E ele, sem jeito, falou: "É... ele é... do... Mé-México!". Vásquez, totalmente tosco travestido de Quico, fez o mesmo número de Villagrán no circo e também do episódio em que as crianças tentam tocar violão: Vásquez se enrolava todo com o instrumento, sentado na cadeira. Depois contou piadas, fez as brincadeiras de praxe... e o carisma do personagem cativava o público, que nem em sonho desconfiava do fato de aquele homem ser um impostor. Lembro-me que tirava fotos sem parar de Vásquez, mas minha enfezada prima Karina me disse pra parar, pois iria acabar o filme. As fotos infelizmente não ficaram boas, pois o flash estava desregulado e tiveram muito brilho.

Eu, que era gordinho na época (nem tão diferente de hoje), fui chamado de Nhonho por Vásquez. Fiquei vermelho como um pimentão... O homem que se passava por Quico encerrou seu show depois de uma hora e meia cantando dois boleros. Roberto Vásquez é até bem afinado, ao contrário de Villagrán, e mostrou romantismo na interpretação das músicas. Assim que acabasse o show, os espectadores poderiam falar com Quico no palco. Esse foi um dos motivos de minha ida no show. Subi no palco enquanto ele dava autógrafos para os demais espectadores. Lembro-me de três perguntas feitas pelo pessoal. A primeira, feita por uma criança: "Você é o Quico que aparece na televisão?". A resposta de Vásquez, na maior cara de pau: "Sim, sou eu mesmo" em um portunhol sem vergonha. Taí a segunda prova de que Roberto Vásquez é um falsário. Já a segunda pergunta, olha só que ridícula: "O que o Seu Barriga usa é um enchimento para parecer gordo?". É claro que a resposta dele foi não, pois Edgar Vivár é gordo mesmo. Quer que isso fique mais engraçado? A cômica pergunta foi feita por um adulto... Já a outra foi feita com o objetivo de saber quais os atores que haviam morrido. A resposta natural de Vásquez: "Seu Madruga, Bruxa do 71 e Jaiminho". Godinez ainda estava vivo na época. Um mistério quanto a isso: como Roberto Vásquez sabia dessas informações? Sem a internet, a vida dos atores das séries era algo que todos tinham a curiosidade de saber, já que o SaBoTagem não informava nada até surgir o Falando Francamente de Sônia Abrão. Creio até que a maioria das pessoas imaginava que todos haviam morrido no famigerado acidente de avião. Só respondendo: ele aconteceu realmente com todos os atores a bordo e felizmente escaparam da morte. Por ironia do destino, dei a foto (acima, scaneada por Karina) de Villagrán que comprei no circo para Vásquez autografar. O autógrafo de Vásquez é um desenho do rosto de Quico de perfil com as bochechas cheias de ar. E enquanto todos estavam no palco falando com Vásquez, só uma pessoa permaneceu sentada na platéia: Karina, minha prima emburrada. Ela confessaria que não se encantou nem um pouco com o show, já que estava ciente de que era um impostor quem estava no palco representando Quico.

Em 2000, encontraria uma reportagem no Diário Gaúcho informando que Vásquez estava morando em Portão, cidade próxima de Porto Alegre. O título: "Um Bochechudo Quico em Portão". Entre outras informações, estavam presentes as que Vásquez teria criado o personagem Quico, interpretado o personagem nos primeiros episódios de Chaves e vendido os direitos do bochechudo a Chespirito. A reportagem está presente na seção Reportagens do Turma CH. Por sinal, ela está repleta de informações erradas (o que já é de praxe quando revistas e jornais brasileiros falam sobre as séries de ChespiritOFiquei com a idéia fixa de que Vásquez era o criador do personagem Quico até conhecer as dezenas de sites CH e saber que um por um discordava da informação, com todos apresentando uma única conclusão: que Roberto Vásquez é um impostor. Mas Vásquez insiste em dizer que foi ele quem criou o personagem e por isso alega ter o direito de interpretá-lo onde e quando quiser. Por conta disso, fica a tona mais um mistério: será que Vásquez foi mesmo o criador de Quico? Sobre a última pergunta feita no parágrafo acima, acredito que a resposta seja não. Vásquez se entregou ao dizer que é ele quem aparece na TV, contando com a ajuda das duas senhoras do teatro que usaram os joelhos dos atores para tentar nos engrupir. Sete anos depois, não caio mais nessa

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